//styles, look here: https://cdnjs.com/libraries/highlight.js/9.12.0

August 27, 2018

1040 palavras 5 mins

Interpolação

Este post vai discutir sobre interpolação. Não é o post mais interessante deste blog. Mas ele é necessário para posts futuros.

A ideia de interpolação é literalmente “ligar os pontos”: dado um conjunto de pontos, procuramos uma função (ou um conjunto de funções) que passe por todos os pontos. Veja que a ideia é parecida com a de Mínimos Quadrados, mas com a diferença que mínimos quadrados não necessariamente passa por todos os pontos - ou sequer passa por qualquer um dos pontos. Eu não vou abordar a matemática por trás disso. O objetivo é transmitir a ideia e como fazer interpolação em duas linguagens de programação, o Julia e o R.

Veja que interpolar é uma maneira de aproximar uma função desconhecida de alguma maneira: só sabemos o valor da função em alguns pontos e queremos ter alguma ideia do comportamento da função entre os pontos. Para isso, ligamos os pontos, e existem diversas maneiras de ligar os pontos.

Uma primeira maneira é buscar um único polinômio que liga todos os pontos. O polinômio vai ser mais complicado - vai depender de mais graus - maior o número de pontos. Se tivermos dois pontos, podemos encontrar uma reta que liga os dois. Três pontos, precisamos de um polinômio de segundo grau. Etc. Essa estratégia se chama polinômio de Lagrange. Se temos \(n\) pontos, podemos usar Mínimos Quadrados com um polinômio de grau \(n-1\) para encontrar o polinômio de Lagrange. Vamos testar isso no Julia usando o pacote polynomials, que nos traz o comando polyfit. Em um primeiro caso, vamos testar a função cosseno:


using Polynomials
using Plots

pyplot()

x2 = range(0,stop = 6,length = 10) #Cria 10 pontos equiespaçados entre 0 e 6
x_aux = range(0,stop = 6,length = 100) #Aonde vamos avaliar a função e o polinômio que aproxima

y = cos.(x2)

pol = polyfit(x2,y) #faz o fit do polinomio

scatter(x2,y,lab="Pontos para interpolação")
plot!(x_aux,polyval(pol,x_aux), lw=2,lab="Polinômio interpolador")
plot!(x_aux,cos.(x_aux),linestyle=:dash, lw=2, lab = "Função verdadeira")

Veja que o polinômio se aproxima bastante bem da função verdadeira nesse caso. Mas desastres podem acontecer, como o exemplo a seguir ilustra: a função é \(\frac{1}{1+25x^2}\) e o problema se chama fenômeno de Runge. Vamos fazer o mesmo experimento que com o cosseno:


x3 = range(-1/2,stop = 1/2,length = 10)
y3 = 1 ./(1 .+ 25 .* x3.^2) 

pol3 = polyfit(x3,y3)

x_aux = range(-1/2,stop = 1/2,length = 100)

scatter(x3,y3,lab="Pontos para interpolação")
plot!(x_aux,polyval(pol3,x_aux),lab="Polinômio interpolador", lw = 2)
plot!(x_aux,1./(1+25*x_aux.^2),linestyle=:dash, lw=2, lab = "Função verdadeira")

Se você acha a oscilação pequena, talvez olhar para um intervalo maior te convença de que um único polinômio não é uma boa ideia algumas vezes:


x3 = range(-3,stop = 3,length = 15)
y3 = 1 ./(1 .+25 .* x3.^2)

pol3 = polyfit(x3,y3)

x_aux = range(-3,stop = 3,length = 100)

scatter(x3,y3,lab="Pontos para interpolação")
plot!(x_aux,polyval(pol3,x_aux),lw=2,lab="Polinômio interpolador")
plot!(x_aux,1 ./(1 .+25 .*x_aux.^2),lw=2,linestyle=:dot, lab = "Função verdadeira")

As figuras acima deixam claro que usar um único polinômio para aproximar a função não funciona em alguns casos. O que fazer? Podemos tomar um caminho relativamente mais simples e ligar cada par de pontos consecutivos com uma função. No Julia, usaremos o pacote Interpolations para fazer isso. Ainda mais simples, vamos usar apenas retas, ou seja, faremos uma interpolação linear. Sem surpresas, o comando que faz isso é o LinearInterpolation. No caso do cosseno:

using Interpolations

x2 = range(0,stop = 6,length = 10)
x_aux = range(0,stop = 6,length = 100)

y = cos.(x2)

aprox_lin = LinearInterpolation(x2,y)

scatter(x2,y,lab="Pontos para interpolação")
plot!(x_aux,polyval(pol,x_aux),lw = 2,lab="Polinômio interpolador")
plot!(x_aux,cos.(x_aux),linestyle = :dot,lw = 2, lab = "Função verdadeira")
plot!(x_aux,aprox_lin.(x_aux), linestyle = :dash, lw = 2,lab =  "Aproximação linear")

Não é tão bom quanto a aproximação usando o polinômio de Lagrange, mas é razoável. Mais importante, como essa nova maneira performa no fenômeno de Runge?


x3 = range(-1/2,stop = 1/2,length = 10)
y3 = 1 ./(1 .+25 .*x3.^2)

x_aux = range(-1/2,stop = 1/2,length = 100)

aprox_lin3 = LinearInterpolation(x3,y3)

scatter(x3,y3,lab="Pontos para interpolação")
plot!(x_aux,1./(1 .+25 .*x_aux .^2),lw=2,linestyle=:dot, lab = "Função verdadeira")
plot!(x_aux,aprox_lin3.(x_aux),linestyle = :dash, lab = "Aproximação Linear", lw = 2)

Tirando ao redor do 0, esta interporlação se comporta bem melhor nas pontas, onde o polinômio de Lagrange fracassa. No caso extremo de termos um intervalo entre \([-3,3]\):


x3 = range(-3,stop = 3,length = 10)
y3 = 1 ./(1 .+25 .*x3 .^2)

x_aux = range(-3,stop = 3,length = 100)

aprox_lin3 = LinearInterpolation(x3,y3)

scatter(x3,y3,lab="Pontos para interpolação")
plot!(x_aux,1 ./(1 .+25 .*x_aux .^2),lw=2,linestyle=:dot, lab = "Função verdadeira")
plot!(x_aux,aprox_lin3.(x_aux),linestyle = :dash, lab = "Aproximação Linear", lw = 2)

Veja que podemos ter o caso em que o valor que queremos cai antes do primeiro ponto ou depois do último ponto. Nesse caso, não temos dois pontos para interpolar, e temos que extrapolar a função. Normalmente, existem várias formas de extrapolar: podemos repetir o valor do primeiro ponto para valores antes dele e do último ponto para valores depois dele; podemos continuar usando a função que liga os pontos mais da ponta; podemos fazer o programa cuspir um erro. Vamos ilustrar as duas primeiras opções usando o Interpolations, e usar a função \(x^2\) para ilustrar. A sintaxe de como escolher como o pacote vai extrapolar é meio esquisita


x5 = range(-5,stop = 5,length = 15)
y5 = x5.^2

inter_1 = LinearInterpolation(x5,y5, extrapolation_bc = Interpolations.Flat())
inter_2 = LinearInterpolation(x5,y5,extrapolation_bc = Interpolations.Linear())

x_aux5 = range(-7,stop = 7,length = 200)

scatter(x5,y5, lab = "Pontos para interpolação")
plot!(x_aux5,inter_1(x_aux5), lw = 2, lab = "Extrapolação constante")
plot!(x_aux5,inter_2(x_aux5), lw = 2, lab = "Extrapolação usando última reta")

No R, a função approxfun, que já vem por padrão com o R, faz interpolação linear. Veja que, ao contrário do Interpolations, a função approxfun só permite extrapolar retornando NA ou um valor constante. Isto é escolhido via a opção rule, que é criptíca: rule=1 retorna NA e rule=2 retorna o valor do ponto mais próximo. Vamos repetir o exemplo do cosseno no R, usando rule = 2:


x = seq(0,6, length.out = 10)
y = cos(x)

f <- approxfun(x,y, rule = 2)

x_aux = seq(-1,7,by=0.01)

plot(x,y, main = "Interpolação linear da função cosseno", xlim = c(-1,7))
lines(x_aux,f(x_aux), col = 2)

A interpolação é útil para muitas coisas. Uma aplicação - que faremos futuramente - é que não podemos calcular a solução númerica de alguns problemas para todos os pontos. Então, iremos calcular para alguns pontos e interpolar a solução entre eles.